Estavam os dois sentados nas cadeiras de baloiço debaixo do alpendre que eles mandaram construir assim que compraram a casa. A vista dali era sempre bonita e estava sempre em movimento. O mar depois das rochas subia e descia no seu embalo, os pássaros que por ali passavam mudavam o seu poiso, as nuvens deixavam-se levar pelo vento e o sol fazia todos os dias as suas demonstrações magníficas de luz e cor. Estar ali, todos os fins de tarde, trazia-lhes paz e era sempre um momento de cumplicidade, em que se sentavam muito próximos, a segurar a mão um do outro, e conversavam, ou limitavam-se a observar.
O homem enrolou e acendeu um cigarro com as suas mãos já treinadas por muitos anos de experiência. Ela olhou para ele e observou-lhe a cara, bonita como sempre se lembrava, e com a barba por aparar. Reparou então nos pelos grisalhos entre os pretos e dentro dela sentiu qualquer coisa a contrair-se. Sabia que nunca tinha desejado envelhecer. Dentro da sua lista de desejos a última coisa que poderia aparecer, se aparecesse, era o facto de ter de enfrentar as rugas, os cabelos brancos, a falta de força e equilíbrio, a falta de memória... mas, estranhamente, agora que estava a olhar para o marido, sentiu-se bem com essas ideias. Os filhos já estavam criados e, a maioria, casados. Tinham uma vida estável com dinheiro e comodidade e havia muito pouco que lhes faltasse. Era assim o curso da vida, e se ia passar a barreira dos 60 anos, então seria ao lado do seu eterno amante, e tudo estaria bem.
Isto foi apenas uma pequena história. Mas vocês, pensam no futuro? Imaginam-se daqui a 30 ou 40 anos?
Eu imagino-me assim, numa casa junto ao mar, com muitos filhos e netos e a aproveitar cada momento da minha vida.
s♥h
ponto final.